"To be hopeful in bad times is not just foolishly romantic. It is based on the fact that human history is a history not only of cruelty, but also of compassion, sacrifice, courage, kindness. What we choose to emphasize in this complex history will determine our lives." - Howard Zinn

 Resultados de pesquisa sobre pirâmides alimentares nas imagens do Google

 

Nunca nos apegámos a um regime alimentar em particular. Quando andava na faculdade ainda experimentei tornar-me vegetariana por razões éticas. A experiência durou perto de um ano, mas acabei por desistir porque a logística de ser vegetariano há vinte anos atrás era bastante complicada, sobretudo para quem precisava de comer fora regularmente.

No entanto, ficou entranhado o gosto pelos pratos vegetarianos e pela sua riqueza, o que muito contribuiu para que sempre tenhamos tido uma dieta bastante rica em legumes. Ao longo dos anos fomos ganhando interesse em aprender um  pouco sobre os diferentes regimes e dietas, tentando aproveitar o que cada um tem de melhor para oferecer e integrando esse conhecimento na nossa alimentação tradicionalmente portuguesa e mediterrânica. Nos últimos dois, três anos, razões de saúde levaram a que intensificássemos esse interesse e implementássemos mudanças muito significativas no nosso regime alimentar. Fomos integrando cada vez mais princípios do Vegetarianismo, da Macrobiótica, do Veganismo, do Crudívorismo, do regime de Creta, da dieta de Okinawa, da dieta anti-cancro de David Servan-Schreiber, daqui e dali sempre que as nossas leituras e descobertas fazem sentido para a nossa realidade.

Entre essas mudanças incluímos uma redução muito significativa do consumo de carne propriamente dita. Muito antes de estarmos familiarizados com o Movimento Segundas sem Carne iniciado nos Estados Unidos já tínhamos ultrapassado a respetiva meta de não consumir carne um dia por semana. Aliás, sempre tivemos dias sem carne na nossa alimentação, porque sempre adorámos peixe e vivemos numa zona muito beneficiada a esse nível. Temos o privilégio do peixeiro vir à nossa porta trazer-nos peixe fresco das lotas de Setúbal e de Sesimbra! Como podíamos não aproveitar?! Sorriso rasgado Além disso, enquanto foi mais pequeno o Maxi-Puto não era grande fã de carne e durante muito tempo já tínhamos reduzido significativamente o seu consumo.

Mas mais recentemente, há cerca de três anos, a redução foi mais drástica. Começámos por reduzir a ingestão de carne para uma a três refeições semanais, optando por peixe e ovos para as restantes. Mas não ficámos por aí. Em resultado das sérias dificuldades com a digestão da carne e da tomada de consciência sobre as suas consequências nefastas na nossa saúde (no meu caso e do César, sentidas na primeira pessoa!), esta decisão evoluiu para uma única refeição de carne por semana, sempre com preferência pelas carnes magras e de animais de pequeno porte (mais fáceis de digerir).

A carne de vaca e a carne de porco foram praticamente expulsas do nosso regime. Contam-se pelos dedos das mãos as vezes que consumimos carne de vaca por ano e só o fazemos porque o Maxi-Puto adora um hamburguer ou um esparguete à bolonhesa tradicional em dias muito especiais. Carne de porco tenho impressão que está praticamente erradicada do nosso regime. Pelo menos já não me recordo bem quando foi  a última vez que comemos carne de porco. Mas creio que já devem ser perto de dois anos! Agora que penso melhor, carneiro, cabrito e borrego vão pelo mesmo caminho.

Afinal minto, a semana passada ofereceram-nos uma pequena caixa de torresmos (ai que desgraça!) e vai sempre havendo um fiambre de porco com alguma regularidade (perdoem-me, mas às vezes até me esqueço, porque eu pessoalmente optei pelo fiambre de frango ou peru). Mas nas refeições em casa já não entra porco há muito tempo. As costeletas, as bifanas, o entrecosto, os pernis… tudo isso desapareceu da lista de compras e das ementas cá de casa . Fora isso, somos capazes de nos deixar tentar por uma bifana no pão nas festas populares ou um pão com chouriço de vez em quando! Envergonhado

A par com a perceção de que a carne é muito pesada para a digestão, tomámos também consciência plena da importância de um jantar ligeiro para garantir um sono mais tranquilo e reparador (as minhas noites estavam cada vez mais complicadas!). As refeições vegetarianas começaram por isso a povoar a maioria dos nossos jantares, alternando por vezes com refeições de peixe grelhado e salada. Com estas mudanças, os legumes, as leguminosas, os frutos secos, os cereais foram ganhando a pouco e pouco outro destaque no nosso regime. Presentemente, as refeições principais da nossa semana orientam-se sensivelmente pelo seguinte esquema, sendo que as mais pesadas são opção para os almoços e as mais leves para os jantares:

  • 1 refeição baseada em carne magra (frango, galinha, peru, pato, codorniz)
  • 2 refeições baseadas em peixe rico ou razoavelmente rico em ômega 3 (salmão, atum, sardinha, sarda, carapau, peixe espada preto, perca-do-nilo, dourada, corvina, cherne, tamboril, robalo, espadarte)
  • 1 refeição baseada em moluscos/marisco (camarão, amêijoa, berbigão, mexilhão, lula, choco, pota – polvo muito raramente porque é de digestão bastante mais difícil)
  • 1 refeição baseada em bacalhau ou pescada
  • 1 a 2 refeições baseadas em ovos e/ou laticínios
  • 1 refeição baseada em queijo e/ou outros laticínios
  • 1 a 2 refeições baseadas numa combinação de cereais e leguminosas (feijão e arroz, grão e couscous, etc)
  • 1 refeição baseada em soja ou tofu
  • 1 refeição baseada em seitan
  • Mais 2 a 4 refeições de inspiração vegetariana, vegan ou macrobiótica, mas fugindo a fontes proteicas animais.

Além deste esquema, fazemos sempre um esforço para garantir que todas as nossas refeições são muito ricas em legumes e cereais integrais (sopas, saladas, acompanhamentos diversos).

Com um regime tão eclético que vamos simplesmente construindo no quotidiano para responder às necessidades específicas do nosso pequeno núcleo familiar, não nos passou pela cabeça que pudéssemos estar a seguir uma tendência… Mas afinal estamos. Há dias lia o artigo My life as a vegetarian – Supporting Linda’s legacy de Paul McCartney e fiquei muito surpreendida por descobrir que afinal existe um nome para o regime alimentar que praticamos cá em casa: o flexitarianismo! Pois é. Parece que temos até muita companhia nesta nossa jornada! E que somos muitos a partilhar as mesmas preocupações. Por isso resolvemos abrir aqui espaço para uma conversa e uma partilha sobre as preocupações e princípios que orientam a nossa alimentação. E já agora também a vossa, se nos quiserem dar o prazer do vosso contributo! Que preocupações regem as vossas decisões alimentares? Que soluções encontram? Que benefícios vos trazem?

Quanto ao “flexitarianismo” temos que admitir que o nome até descreve bem a nossa postura. Nada indica que venhamos a enveredar por algum regime alimentar em particular. Não queremos estar presos a uma opção rígida, nem aceitamos qualquer tipo de imposição ou fundamentalismo. Nesta, como em tantas outras áreas da nossa vida, queremos manter-nos flexíveis e ir sempre aprendendo, adequando e compatibilizando o nosso regime alimentar com as nossas necessidades de saúde e bem estar, com a realidade dos nossos horários e da nossa disponibilidade para cozinhar, com a conjuntura sócio-económica e cultural em que nos inserimos, com a nossa localização geográfica, com a urgência de assegurar a sustentabilidade e a preservação ambiental, com a vontade de compreender as diferentes perspetivas éticas e morais envolvidas. Por isso, flexitarianos continuaremos a ser. E por aí, anda mais alguém “flexitariano” ? Piscar de olho

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