A Cava é uma pequena aldeia situada na freguesia da Madeirã, concelho de Oleiros, na Beira Baixa. Aí nasceram alguns dos nossos antepassados. Aí nasceu também uma parte de nós e algumas das raízes que sustentam o nosso ser e o nosso sentir. O nome da pequena aldeia vem-lhe da sua localização no fundo de um magnifico anfiteatro montanhoso. Em criança, ouvi muitas vezes ser-lhe feita a analogia à cova, quase como uma referência à morada final. Se a memória não me falha, julgo até que teria sido esse o seu nome inicial (terei de averiguar). Compreendo a alusão negativa. O relevo difícil, a desertificação do interior, a falta de oportunidades de trabalho e educação, os acessos outrora complicados, a vida dura… são inúmeros os fatores que para tal contribuíram. Compreendo a alusão, mas felizmente não partilho dessa perceção. Para mim a Cava não é a cova, nem a derradeira morada. É o berço.
Não é apenas o berço que viu nascer a minha família. É também o meu berço. O berço que embalou a minha doce infância ao som da floresta, dos ribeiros e dos rebanhos. É o berço sobre o qual penduraram o céu estrelado mais indescritível que já vi. O berço onde os sons do silêncio sussurram canções de embalar e as vozes dos aldeões contam histórias de encantar. Onde a luz da aurora e do crepúsculo nos deixam atónitos. O entardecer convida à introspeção, à meditação, à Poesia. E a paleta de cores exuberantes que atravessa as quatro estações nos desperta para a Arte. Os perfumes que impregnam o ar estimulam o apetite pela vida e os sabores da terra aguçam-nos o palato. A Cava é o berço onde despertaram os meus sentidos e a minha paixão pela Natureza. Sempre que lá vou, renasço. Reencontro a menina que percorria os trilhos dos socalcos, que apanhava girinos na ribeira, que caçava grilos no campo, que colhia cerejas nas árvores…
O lugar é mágico e o César, os Filhotes e a avó Teresa começam apenas a descobri-lo. Este fim de semana estivemos lá. Entre algumas dificuldades de saúde, a partida da minha Mãe, os filhos pequenos, o trabalho e os estudos, já se tinham passado vários anos sem lá irmos. Queremos mudar isso. Queremos redescobrir juntos este lugar maravilhoso que renasceu depois de ter sido varrido pelo fogo no ano de 2003. E espero que um dia também os nossos filhos o considerem um berço. Um lugar de doces vivências que nos embala a existência.