Como já aqui dissemos, dedicámos a sexta-feira passada ao vinho . Bem… não foi propriamente ao vinho, mas a um dos seus templos aqui em Azeitão.
A razão do nosso suspense deveu-se à necessidade de pedir autorização ao proprietário para usarmos os registos fotográficos da visita. Aqui fica o nosso agradecimento à Bacalhôa Vinhos de Portugal por permitir visitas à sua propriedade, por partilhar connosco o seu gosto pela Arte e por autorizar a partilha deste pequeno registo aqui no blog.
A nossa bela região de Azeitão é sobejamente conhecida pelos vinhos que produz. No entanto, pode passar ainda despercebido a muitos, que as caves dos vários produtores locais são autênticos templos. Templos de Cultura, de Tradição e de Arte onde se guardam escrupulosa e quase religiosamente séculos de História e de Saber.
São espaços inspiradores que se traduzem atualmente cada vez mais no conceito de Enoturismo. Faz todo o sentido. O vinho como o pão acompanha a Humanidade desde os tempos primordiais e carrega consigo uma Espiritualidade inerente.
Foi essa Espiritualidade que saboreámos ao longo desta visita. Primeiro entre as paredes do Palácio da Bacalhôa, sorvendo a solenidade do seu interior e a frescura do seu exterior.
Em seguida, na exposição “Out of África” onde os sentidos despertaram e, acreditem, se os olhos ficaram maravilhados com as cores e as formas, não imaginam como o tato, pelo menos no meu caso, fervilhou de vontade de tocar as diferentes texturas e a suavidade das madeiras (sim, tive de me conter) …
Seguiu-se uma passagem por uma cave escura e fresca. Aí encontrámos a exposição “O Azulejo Português do Século XVI ao Século XX”. Para mim, pessoalmente, foi o ponto alto de toda a visita. Não tanto pela exposição em si, embora os painéis sejam verdadeiramente magníficos e contribuam para criar o ambiente, mas sobretudo pela própria ambiência. Foi uma autêntica epifania para os sentidos. O odor das madeiras dos barris, a sombra imponente que contrasta com a luz ténue que ilumina os painéis de azulejos, a música de fundo criteriosamente escolhida, a acústica que impregna de mistério as vozes que sussurram…apeteceu-me sentar-me no chão e parar um longo momento para contemplar, relaxar ou mesmo… meditar (sim, também me contive). Que lugar maravilhoso e repousante!
Não admira que, embora acumulando razões para exclamar “What a Wonderful World!”, o nome da exposição que se seguiu e onde o glamour do Art Nouveau e Art Déco celebram a vida, essa explosão de cor e brilho tenha contrastado drasticamente com o momento de introspeção anterior. Foi como passar do silêncio do templo para o ruído da multidão. Como se saídos do ventre de uma gruta cá fora encontrássemos a festa e a celebração. E que celebração!
Quase como um rito, a visita terminou abrindo a última janela dos nossos sentidos para saborear a Espiritualidade destes momentos: o paladar. Pois foi. O ritual do vinho. Do branco. Do tinto. Do Moscatel. Este último, sem dúvida, o nosso preferido. Faltou o chocolate…
As fotos que partilhamos aqui e na galeria levantam apenas ligeiramente o véu sobre as sensações que vivenciámos, mas… nem mil palavras, nem mil imagens podem traduzir a singularidade destes momentos. Não é possível transmitir o impacto dos cheiros, dos sons e dos silêncios, das nuances da luz e das cores, da mística dos lugares… É preciso senti-los e vivê-los. A não perder.