"(...) there is consensus over the need for active ecological citizenship because of the recognition that the transition to a sustainable society requires more than institutional restructuring: it also needs a transformation in the beliefs, attitudes and behaviour of individuals" - Neil Carter

Diário de Bordo

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Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de histórias. Adoro histórias! Daquelas que vêm em livros repletos de ilustrações espantosas, ou em enormes ecrãs de cinema que me fazem sentir novamente uma criança, ou no corpo e na voz dos mais diversos atores e contadores de histórias que me fazem sonhar... mas as histórias que mais me emocionam são as aventuras e as experiências maravilhosas que acontecem no dia a dia e onde os atores são pessoas reais! Aquelas histórias em que as pessoas que guardam em si a Poesia da Vida referida por Edgar Morin, fazem acontecer magia! Essas são as melhores histórias do mundo. Ainda mais quando temos o privilégio e a alegria de fazer parte delas.

Esta é uma narrativa muito no início, daquelas em que o futuro é ainda um livro por abrir, um mistério por desvendar. Tudo começou dentro do grupo Lixo Zero Portugal, um grupo que para surpresa de todos tem crescido e onde os membros se envolvem e empenham de forma surpreendente. Um grupo onde se procuram alternativas para um consumo mais sustentável que não polua a Terra e a Vida nela. Onde há energia positiva e iniciativa. O grupo Lixo Zero Portugal foi o ponto de encontro das pessoas desta história, pessoas que de outro modo, provavelmente, jamais se teriam conhecido. Foi o palco onde os seus caminhos se cruzaram. Um desses caminhos foi o percorrido pela Ana e pela Inês para organizarem em conjunto com a Biovilla Sustentabilidade o evento Desperdício Zero que referi no post anterior. Um evento para partilhar experiências em torno do Movimento Lixo Zero em Portugal.

Outra história nesta encruzilhada é a da nossa Famíla na sua jornada de aprendizagem para um estilo de vida mais sustentável e agora também na busca de uma forma de dar o seu pequeno contributo para um mundo mais em harmonia com a Natureza. Falei disso quando expliquei aqui o nosso papel de colibris e as nossas pequenas iniciativas nesse sentido. Uma dessas iniciativas foi a criação no Facebook do grupo Reutilizarte e Repair Café Portugal, cujo nome foi posteriormente alterado para Reutilizarte e Café Conserto Portugal. Dentro do grupo Lixo Zero Portugal tomámos uma consciência mais plena do gravíssimo problema do desperdício de roupa e "lixo" têxtil, bem como da enorme iniquidade da indústria têxtil. Apercebemo-nos também da grande vontade dos membros do grupo em recuperar competências de restauro e reutilização, não só dos têxteis, mas também de mobiliário, candeeiros, etc. Eu tinha visto há alguns meses atrás um vídeo sobre os Repair Cafés no norte da Europa e, não me tendo apercebido que era um movimento associado a uma Fundação e julgando tratar-se de encontros espontâneos entre pessoas interessadas em trocar experiências, apaixonei-me de imediato pelo conceito. Era o tipo de encontros que queria ver acontecer em Portugal e muito particularmente na nossa localidade para que fosse mais viável participarmos. Do nosso lado, restaurar e reparar fez sempre parte dos nossos hábitos e senti que podíamos contribuir de alguma forma para promover esta mudança de paradigma e de mentalidade. Falei com o Nuno César, o Maridão cá de casa, e decidimos criar o grupo, não só para ser uma espécie de Repair Café virtual para trocarmos ideias, dicas e experiências uns com os outros, para fazermos trocas de materiais e nos entreajudarmos com projetos de reutilização, mas também numa tentativa de, apesar do nosso isolamento, contribuir de algum modo para que este tipo de encontros se fosse tornando uma realidade pelo País afora. A vontade de fazer acontecer.

Enquanto nós nos lançávamos nesta pequena aventura, outro membro dos dois grupos ia vivendo a sua. Falo da Luísa, na altura voluntária nos Repair Café Lisboa, promovidos pelo Fablab e pela Circular Economy Portugal, uma Organização Não Governamental. A Luísa ia colaborando com os Repair Cafés Lisboa, angariando voluntários e público. Comecei a ter contacto com a Luísa em ambos os grupos, quando vinha divulgar as iniciativas de que fazia parte ou a que estava ligada. Colaborou também na divulgação dos Repair Cafés de Aveiro e do Porto. Quando a Luísa veio ao grupo Reutilizarte lançar o convite aos membros para se tornarem voluntários, cá em casa abraçámos logo a ideia, só tivemos que aguardar um momento mais oportuno, porque estávamos a atravessar uma fase conturbada da nossa vida. Entretanto, quando chegou o momento de sermos voluntários no nosso primeiro Repair Café Lisboa, a colaboração da Luísa no mesmo sofreu uma reviravolta inesperada! O pressuposto de que um Repair Café deva ser algo institucionalizado, ficando consequentemente limitado geograficamente, afastou-a do projeto. Foi quando pelo nosso lado percebemos que os Repair Cafés surgiram originalmente sob a tutela da Repair Café Foundation e funcionam em moldes muito próprios, como terem o logotipo próprio da Fundação e começarem com a compra de um kit de iniciação. Também não era assim que nós imaginávamos estes encontros que deveriam poder acontecer tão livre e espontaneamente como uma feira de garagem ou um mercado de trocas. Foi então que começou a germinar uma nova ideia entre nós. E se, sem qualquer prejuízo para as instituições que queiram promover os seus próprios Repair Cafés fixos com ou sem tutela da Fundação, nós nos juntássemos e tentássemos promover um outro conceito, um outro tipo de encontros, que não dependa da vontade e disponibilidade de nenhuma instituição em particular e que possa acontecer em qualquer lugar? E se para acontecer um encontro deste género, bastasse existir um anfitrião que aceite acolher o encontro, voluntários que o queiram organizar e um público interessado em participar?

Pela mesma altura em que andávamos nestas cogitações, para nossa surpresa a Ana contactou-nos a contar que ela e a Inês estavam a organizar o evento Desperdício Zero com a Biovilla Sustentabilidade e a sondar se podíamos organizar um Repair Café para o evento. "- Já nos comprometemos para um Repair Café nesse dia, mas ainda não está devidamente confirmado e paira no ar a hipótese de que seja cancelado.", respondemos nós. "- Se vier efetivamente a ser cancelado, claro que poderás contar connosco!" Poucos dias depois, o dito encontro era cancelado, confirmávamos à Ana a nossa disponbilidade e refletíamos em conjunto: "- Olha, já não será um Repair Café. Será um encontro que se inspira na ideia do Repair Café, mas o conceito deverá ser revisto e repensado para se adaptar à realidade e necessidades portuguesas e essa redefinição deverá ser participada por todos aqueles que desejem promover este tipo de encontros, seja no papel de anfitriões, de voluntários ou de público interessado. Para começar, precisamos já de um nome para o evento, como lhe vamos chamar? E se fosse Café Conserto? Café Conserto será, que temos pressa! Depois veremos mais tarde se os voluntários têm outras sugestões melhores. E toca a criar uma página no facebook que nos permita divulgar o evento, a atualizar o nome do grupo, a contactar voluntários, a prever e organizar tudo o que é necessário e a divulgar tanto o evento Desperdício Zero, como o Café Conserto, que estamos mesmo em cima da hora e já se faz tarde!"

E assim foi que, no meio de uma azáfama, depois de kilómetros de mensagens trocadas no Facebook e de dezenas de partilhas, da criação da página Cafés Conserto Portugal, de carregarmos os carros com maquinaria, ferramentas, chá, café e bolinhos, lá nos encontrámos todos no dia 15 de Julho de 2017 no primeiro evento Desperdício Zero e no primeiro Café Conserto. Assim foi que, sem nos conhecermos, sem nunca nos termos visto, sem o termos planeado e sem quase nos darmos conta disso, embarcámos juntos nesta incrível aventura, impelidos por uma dose saudável de loucura e por uma enorme vontade de fazer acontecer. Já passou mais de uma semana e ainda me parece inacreditável o que aconteceu. Foi fantástico!

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Cidadania proativa, Eco-ativismo, Sustentabilidade, Desperdício Zero, Economia Circular, Cidadania Ecológica, Objetivos Desenvolvimento Sustentável