"The greatest change we need to make is from consumption to production, even if on a small scale, in our own gardens. If only 10% of us do this, there is enough for everyone. Hence the futility of revolutionaries who have no gardens, who depend on the very system they attack, and who produce words and bullets, not food and shelter." - Bill Mollison

"All the problems of the world can be solved in a garden." - Geoff Lawton

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A vida é feita de muitas fases, de muitas circunstâncias e nem sempre temos a disponibilidade que desejamos para manter a horta e o jardim perfeitamente "arranjados" e "bonitinhos" segundo os canônes da nossa sociedade atual, onde a Natureza é encarada apenas como algo a manter sob o jugo humano.

Há momentos do ano (nuns anos mais do que noutros), particularmente depois de várias semanas de chuva e temporais, em que o nosso quintal parece uma pequena "selva" com folhas e frutas caídas, urtigas e outras espontâneas a cobrir os caminhos. Quando éramos mais jovens isso stressava-nos seriamente, até porque nunca faltaram, nem faltarão, olhares reprovadores a querer acusar-nos de desleixo.

Apesar disso, sempre quisemos manter o quintal repleto de árvores e plantas, o solo o mais livre possível de betão e convidar a Natureza a entrar pelos nossos portões adentro. Simplesmente porque a amamos e não a queríamos erradicar da nossa porta. Crescemos assim, um pouco como o Gérard Durrell, entre bichos-de-conta, joaninhas e corridas de caracoletas, boquiabertos a olhar as aves no céu e as borboletas. Queríamos e queremos que os nossos filhos também tenham esta oportunidade.

Com o passar dos anos e muita aprendizagem, fomos percebendo as funções importantes que o nosso pequeno quintal cumpre, mesmo (ou até principalmente) quando mais parece uma "selva". Deixámos de stressar. É tão importante assegurar alimento e abrigo para insetos, aves, pequenos mamíferos e pequenos reptéis, assegurar espaço para plantas locais espontâneas, assegurar árvores para o equilíbrio do ciclo da água, o desenvolvimento da rede micelial, etc.

Aprendemos assim a apreciar o nosso pequeno quintal ainda mais nesses períodos em que deixamos a Natureza reinar livremente. Entretanto, tornámo-nos aprendizes de Permacultura e mesmo quando jardinamos mais, preservamos sempre pelo menos uma pequena zona 5, um pequeno santuário onde não intervimos e damos carta branca à Natureza.

Nunca nos teria passado pela cabeça que um dia surgiria um movimento que viria de encontro a esta nossa filosofia e que seria acolhido internacionalmente. Mas surgiu... em resposta à assustadora degradação da biodiversidade. A ideia surgiu em 2018 e começou a dar passos consistentes em 2019. É o movimento We are the Ark (Acts of Restorative Kindness - tradução aproximada, Atos de Bondade Restauradora) que inspira a devolver à Natureza o maior espaço possível das nossas propriedades, sejam grandes ou pequenas, deixando-as transformar-se em corredores ambientais.

Abandonar os relvados, a pavimentação excessiva e permitir a renaturalização dos nossos quintais, dos nossos jardins, das nossas quintas. Reverter ou pelo menos abrandar a brutal simplificação biológica a que estamos a assistir. Mais Natureza! Mais Natureza. Porque precisamos. We are the ARK.