A Fast Fashion é um desastre social e ambiental ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos, desde a produção das fibras têxteis aos descarte final das peças no pós-consumo. Envolve um consumo brutal de água, o uso de químicos extremamente poluentes, o empobrecimento dos solos, a sobreexploração de recursos humanos, etc., etc.
Para cúmulo, depois deste processo nefasto e tortuoso, grande parte da roupa comprada transforma-se em lixo a uma velocidade e numa quantidade verdadeiramente alarmantes! Este descalabro, no final do ciclo de produção, origina novamente um consumo absurdo de recursos com toneladas de roupa a serem trucidadas sem justificação, a sobrecarregarem os aterros ou a acabarem a poluir as áreas naturais de países em desenvolvimento.
Precisamos de mudar a nossa relação com a roupa. De comprar em segunda mão. Quando compramos novo, precisamos de comprar menos e de melhor qualidade. É fundamental usarmos a roupa mais tempo. O restauro, o remendo e a transformação têxtil precisam de voltar em força aos nossos hábitos e às nossas competências, seja fazendo nós próprios, seja valorizando essa prestação de serviços.
E não, a reciclagem não resolve o problema. Umas calças de ganga rotas por exemplo, ainda podem ser remendadas com muito estilo ou transformadas em vários projetos muito úteis e nobres, com pouquíssimo investimento de recursos. Muito menos do que a energia envolvida em trucidá-las para se transformarem em despedício para as oficinas.
Temos muito a ganhar com isso. Na sustentabilidade. Na economia circular. No consumo consciente.
Aprendi a restaurar e reutilizar têxteis com a minha Mãe. Começou logo na infância com os maravilhosos vestidos que ela confecionava para mim, reutilizando e transformando peças de roupa diversas. E também com o seus ensinamentos. Não me ensinou só costura e outros lavores. Ensinou-me também uma forma muito particular de pensar e de criar. Ensinou-me a valorizar os recursos e a reconhecer-lhes o potencial. Ensinou-me a descobrir as inúmeras possibilidades criativas encerradas em cada pedacinho têxtil. Ensinou-me a coragem de pôr mãos à obra, de experimentar, de falhar, de aprender até conseguir dar a obra feita.
Naquela altura não o sabia, mas com o tempo vim a descobrir que me deu também uma fonte de bem-estar, uma forma de meditação extremamente relaxante e regeneradora.
É este contexto que nos motiva a partilhar projetos, aprendizagens e recursos para Trapologia. Porque é uma competência transversal fundamental para a Sustentabilidade, tão importante como cultivar alimento, cozinhar ou andar de bicicleta.